sábado, 21 de setembro de 2013

Juan Manuel Fangio - O "maestro" das pernas tortas

Juan Manuel Fangio, conhecido simplesmente como "Maestro", este tímido argentino foi o primeiro homem a ganhar cinco Campeonatos Mundiais de Fórmula Um, só tendo sido superado atualmente por Michael Schumacher. Dirigindo em uma época de automóveis e valores diferentes, seu talento e qualidade técnica sempre serão admirados no mundo do automobilismo por ter estabelecido um padrão de excelência que dificilmente será igualado.


                                                                      Juan Manuel Fangio
 

Juan Manuel Fangio nasceu no dia 24 de junho de 1911 em Balcarce, na província argentina de Buenos Aires. Filho de uma humilde família de imigrantes italianos, Começou a pilotar carros de corridas aos 23 anos, um Ford emprestado por um amigo. Devido à oposição dos familiares, que temiam por sua segurança, Juan decidiu parar com as corridas e dedicar-se a ser mecânico. Em 1938, porém, com a ajuda de um dos irmãos, construiu um carro para competir em Necoches e chegou em sétimo lugar. Passou a correr regularmente. Teve seus bons e maus momentos, mas faltava dinheiro. Então os moradores de sua cidade natal, Balcarce (a 400 quilômetros de Buenos Aires), o ajudaram a comprar um velho Chevrolet para corridas de longa duração.começou a trabalhar em uma oficina mecânica. Além dos automóveis, sua outra paixão era jogar futebol, o que lhe conferiu o apelido "El Chueco" (pernas tortas) que permaceria ao longo de sua vida. 

Em 1934 começou com as corridas e o simples fato de que tenha sobrevivido já o torna um campeão, pois os circuitos argentinos nessa época eram muito precários e perigosos. Juan Manuel Fangio disputou sua primeira corrida aos dezessete anos, guiando um Ford-T, e terminou-a em último. Subiu ao pódio pela primeira vez nas Mil Milhas na Argentina em 1939.Mas Fangio demonstrou ser um persistente lutador e se consagrou duas vezes Campeão Nacional Argentino (em 1940 e em 1941). Tinha muita esperança de ir à Europa em busca de glórias ainda maiores, porém a Segunda Guerra Mundial postergou esses sonhos.


Em 1947 foi finalmente mandado à Europa com o auxílio financeiro do governo de Perón. Lá, Fangio pôde demonstrar ao mundo toda a sua habilidade. Contrastando com sua figura tímida e sua voz baixa, quando se posicionava detrás do volante ele virava um piloto fora de série, como nunca visto antes. 

Fangio se referia ao automobilismo sob duas perspectivas: como uma ciência que demandava um estudo exaustivo e ao mesmo tempo como uma arte que deveria ser cuidada como tal - costumava compará-lo à pintura.


CARREIRA NA F-1 ANOS 50

Em meados de 1950 - quando teve início a era moderna do Gran Prix com a estréia da Fórmula Um - Fangio pilotava para a Alfa Romeo. Nesse ano terminou em segundo lugar mas logo ganhou seu primeiro Campeonato Mundial em 1951. 


                                      Juan Manuel Fangio com a Alfa Romeo em 1950.


                                    Poster do 1º título na F-1 de Fangio com a Alfa Romeo em 1951.


Durante uma corrida em 1952 sofreu um grave acidente em Monza. Ao seguir para a Itália, onde disputaria a prova, fez escala em Paris, mas não pôde continuar a viagem de avião por causa do mau tempo. Fangio não hesitou: pegou um carro e dirigiu aproximadamente 700 km até Monza. No dia seguinte, ainda cansado, bateu o seu Maserati durante uma sessão de treinos e voou para fora do carro. Feriu-se gravemente no pescoço. Ficou 40 dias internado e cinco meses com pescoço e tronco imobilizados. Muitos chegaram a pensar que a sua carreira estaria encerrada ali. No entanto, voltou a competir no ano seguinte.






Em 1954 trocou a Maserati pela Mercedes, um movimento que o ajudou a conquistar seu segundo título mundial - o primeiro de uma série de quatro títulos seguidos - abocanhando sempre as pole positions e ganhando seis das oito corridas do campeonato.

                                    Poster do bi campeonato de Fangio em 1954.


No ano seguinte e novamente com um Mercedes, ganha seu terceiro Campeonato Mundial e forma uma dupla sensacional com o inglês Sterling Moss, seu colega de equipe. O jovem Stirling idolatrava seu mentor mais velho e o apelidou carinhosamente de "Maestro" (mestre).


                              Em 1955, Fangio fatura o tri campeonato também com a Mercedes.

Mas aí veio Le Mans. Fangio só se envolveu indiretamente no acidente que provocou a morte de 81 espectadores em 1955. De qualquer modo, isso marcou uma virada na sua carreira. A Mercedes se retirou do automobilismo e pairava no ar um risco real de que os governos europeus terminassem com a F1 por causa da tragédia. 


Após mudar-se à Ferrari, Fangio restaurou a glória da F1, conquistando 6 pole positions em 7 corridas e ganhando 3 delas (nas outras 4 ficou em segundo) para exigir seu quarto - e dizem, o melhor - Campeonato Mundial.


                    Recheado de glórias, Fangio conquista o tetra em 1956 em sua melhor temporada.


Em 1957 abandonou a Ferrari para voltar à Maserati, ganhando o quinto título mundial con performances extraordinárias. No circuito alemão de Nürburgring e tripulando um leve Maserati 250F, após um problema no reabastecimiento, teve que vir correndo detrás e faltando uma volta conseguiu passar as duas Ferraris oficiais diante do assombro do público e de seus rivais por seu virtuosismo. Isso lhe rendeu com o correr do tempo, em fevereiro de 1958, o prêmio anual da Academia Francesa de Esportes por ser o autor da mais impressionante façanha esportiva do mundo.

       No retorno a Maserati, Fangio alcança o seu quinto e último título em 1957, somente igualado por Michael Schumacher.


Abaixo, um vídeo da on board do carro de Fangio, especialmente para os pilotos que reclamam de zebras altas e ondulações no asfalto nos dias de hoje…





Depois de algumas corridas em 1958 ele se retira do automobilismo, já sem ter que provar mais nada a ninguém, dizendo apenas "Acabou". Voltou a sua oficina com a consciência de ter salvo a F1 pós Le Mans e de ter estabelecido um padrão de excelência e domínio da máquina que provavelmente nunca serão igualados.

Fangio foi o primeiro piloto do mundo a mostrar que a "Era romântica da Fórmula Um" estava para fechar o ciclo. Isto aconteceu quando decidiu encerrar a carreira em 1958.

Numa entrevista alguns anos depois, ele comenta o que o levou a tomar aquela decisão, já que estava no auge de sua carreira:

" Eu estava em Reims (1958), a treinar para o Grande Prêmio da França, quando senti que o carro estava muito instável, o que me chamou a atenção porque a grande virtude da Maserati 250F era sua estabilidade. Então cheguei ao box e perguntei ao chefe de equipe o que se passava; ele respondeu-me:- Trocamos os amortecedores! - Mas porquê?, perguntei. - Porque estes nos pagam! - Assim, naquele momento, tomei a decisão de encerrar a carreira. E não me arrependo disso! "

Os dois pilotos que o sucederam que ele mais admirou foram o britânico Jim Clark e brasileiro Ayrton Senna.

Em julho de 1995, Juan Manuel Fangio morreu vítima de insuficiência crônica renal aos 84 anos.

A sua marca de 5 títulos só foi superada 46 anos depois pelo alemão Michael Schumacher com a 6ª conquista em 2003.

A seguir um video de Juan Manuel Fangio no GP da Alemanha de 1957.Uma das maiores pilotagens de todos os tempos. Segundo o próprio: ”Eu nunca pilotei tão velozmente antes em minha vida, e eu não acho que serei capaz de fazê-lo de novo.”





TEMPORADA A TEMPORADA:
TemporadaEquipeVitóriasPontosPosição final
1950Alfa Romeo327Vice-campeão
1951Alfa Romeo231Campeão
1953Maserati128Vice-campeão
1954Maserati / Mercedes642Campeão
1955Mercedes440Campeão
1956Ferrari330Campeão
1957Maserati440Campeão
1958Maserati-714°


NÚMEROS:
Fangio, ao longo de sua carreira, construiu um dos currículos mais invejáveis da categoria:
  • É o campeão com o maior percentual de vitórias: 47,06%
  • Possui o maior percentual de títulos: 62,5%
  • Possui o maior percentual de poles: 55,7 %
  • Possui o maior percentual de largadas na primeira fila: 94,1%
  • Possui o maior percentual de pódios: 68,6%

FRASES DE JUAN MANUEL FANGIO:

"Fui apenas um corredor de automóveis. Não fiz nada para o bem da humanidade"

O seqüestro vai me dar mais fama nos Estados Unidos do que os cinco títulos mundiais. Obs.: Logo após ser libertado do sequestro em Havana - Cuba.24/02/1958.

"Quando eu corria com a Mercedes, eu pensei que eu iria aprender alemão. Mas minha mulher não queria viver na Alemanha." Já viram quem dava a última palavra no relacionamento do Fangio...rs

"As mulheres governam nossas vidas, não é?" 

"Você precisa de uma grande paixão, porque tudo que fazemos com grande paixão, você faz bem."

"Nós usávamos um lubrificante de resina muito caro na Maserati. Visitei o dono da fábrica Lubra em Milão, e disse a ele que queria que seu óleo. Ele disse que se eu usasse um adesivo Lubra no meu capacete, ele me daria petróleo e pagaria 150 mil liras. "

"Eu disse ao meu sobrinho que se ele queria ficar no automobilismo, a primeira coisa que deveria fazer era ser mestre no Inglês. Graças a Deus agora ele fala." 

"Aprendi a abordagem de corrida como um jogo de sinuca. Se você bater a bola muito forte, você não chegará a lugar algum. Como você lida com o taco corretamente, você dirige com mais finesse."

"Os organizadores tinham construído toda a publicidade em torno da sua Alfas Romeo. Disse o engenheiro chefe da Alfa que se eu não ganhar, não seria a Alfa a perder, mas Fangio. Eu o convenci a deixar fazer minha corrida, e eu venci."

"Quando vim pela primeira vez fora da Argentina para a Europa, o vôo teve 36 horas. Agora é preciso 12 horas. e o mundo ainda está encolhendo." 

Para ganhar a primeira coisa a fazer é chegar." Isso é muito importante...

"Tente ser o melhor, mas nunca acredite que é o melhor".

"Corridas são corridas"

"Nunca me preocupei em marcar uma volta rápida" 

"Com a morte de Ascari, se foi meu principal rival e amigo"

"Senna foi o único que uma vez me pediu um conselho"

"Os corajosos não fazem história, porque quando eles ganham eles não sabem o que fazer. "

"Foi o mais glorioso dia para minha mãe quando eu disse à ela que eu não correria mais. "

"Ascari tinha uma desvantagem: era muito supersticioso." 

"Corridas não são ganhas na primeira curva. mas são perdidas nela."

"Devo tudo às corridas. Será sempre pouco o que eu agradecer." 


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