Nelson Piquet com expressão preocupada. Temporada de 1989. |
Foi o que aconteceu. Largando da segunda posição, Berger saiu da corrida com um problema no diferencial na 13ª volta, enquanto o motor de Alboreto estourou na 43ª. Na 71ª passagem, a chave de ouro para um domingo de sorte: a porca da roda traseira direita de Mansell se soltou e o inglês, que liderara 71 das 76 voltas, abandonou. Dobradinha brasileira com Piquet e Ayrton Senna, da Lotus, e Alain Prost em terceiro. “Estava conformado com a segunda colocação”, admitiu o ex-piloto da Brabham.
Depois daquela vitória, Piquet e Mansell subiram quatro vezes ao pódio nas cinco provas seguintes e a F1 chegou a Suzuka, penúltima etapa do campeonato, com tudo indefinido, embora o brasileiro segurasse uma vantagem de 12 pontos na classificação. Na sexta-feira, Mansell bateu durante os treinos livres e quando Piquet alinhou o FW11B ao grid, já era o mais novo tricampeão mundial da F1.
A conquista, todavia, prenunciou um cataclisma. Piquet já se mostrava pouco contente com a atitude da Williams e do diretor técnico Patrick Head, que segundo ele, denunciavam seu acerto para Mansell. “Trouxe dez anos de experiência para esta equipe, e em troca recebi Mansell”, ironizou o brasileiro, que sofrera também um grave acidente em Imola, no início do ano.
Fulo da vida com Head, mandou-se para a Lotus e levou consigo o patrocínio da Camel e o fornecimento dos motores Honda. Mas, salvo o salário recorde, pago pela indústria do tabaco, a decisão de ir para a equipe de Colin Chapman se mostrou um completo erro.
Em 1988, Nelson chegou apenas três vezes ao pódio e abandonou sete das 16 provas no campeonato, uma delas em uma tacanha colisão com Eddie Cheever, da Arrows, em Mônaco. No ano seguinte, já sem os motores Honda, repetiu o número de abandonos e não se classificou para o GP da Bélgica – uma mancha no currículo de Piquet, que ainda viu a corrida ser vencida pelo desafeto Ayrton Senna.
Nos bastidores, a relação com o corpo técnico da Lotus também não contribuiu para um panorama favorável. Em primeiro lugar, odiou o 100T, um chassi sem resistência para comportar os motores turbocomprimidos da Honda e projetado pelo errático Gérard Ducarouge. Com a demissão do francês, chamou o amigo aerodinamicista Frank Dernie para a direção técnica da Lotus, mas pouco mudou. Veio o 101, um carro que poderia brigar entre os cinco primeiros se não fosse o motor Judd CV, avaliado simplesmente como “uma merda” pelo piloto brasileiro.
Para piorar, ainda nessa época, a relação com Senna começou a azedar. Em uma de suas primeiras entrevistas como piloto da Lotus, Piquet andou com o carro do paulista e disse que o desinfetaria bem antes de entrar no cockpit. Em resposta, Senna atribuiu a si, entre gargalhadas, como o motivo para a ausência do piloto da Lotus do noticiário. “Queria dar a chance para os outros”, ironizou, em entrevista ao “Jornal do Brasil”.
No dia seguinte, Piquet deu o revide: “Se Senna esteve desaparecido, não foi para me deixar aparecer. Foi para não ter de explicar à imprensa brasileira por que não gosta de mulher”. O armistício cessou e Senna ainda conquistou três títulos mundiais nos anos seguintes, escanteando o veterano nas páginas dos jornais.
Apesar disso, Piquet se mantinha maroto. Continuava cercado de mulheres, tinha um salário felpudo e os três títulos mundiais já o colocavam ao lado de titãs como Niki Lauda, Jackie Stewart e Jack Brabham. Teve ainda a oportunidade de se despedir com honra da F1 e trocar a Lotus pela Benetton em 1990, garantindo mais três vitórias ao currículo.
Mas aqueles dois anos obscuros ao lado de nomes como Andrea de Cesaris e Satoru Nakajima, pilotos não mais do que medianos, no grid, serão eternamente lembrados como a época em que Nelson Piquet quase destruiu sua carreira.
Nelson Piquet com a Lotus 1988 |
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